Cores e significados

Significado das cores


Texto extraído do livro "Da cor a cor inexistente" autor: Israel Pedrosa

Introdução do capítulo Cores, pag 118.


C'est le dessin qui donne Ia forme aux êtres; c'est la couleur qui leur donne la vie.
Voilá le souffle divinqpi les anime.
Diderot

É o design que dá forma aos seres; é a cor que lhes dá vida.
Aqui está o sopro divino os anima.
Diderot

Em nenhuma outra época a cor foi tão largamente empregado como no século XX. As granes industrias de corantes e de iluminação tornaram cada vez mais ricas as possibilidades cromáticas, por meio de novas tintas sintéticas, plásticas e acrílicas, e de luzes incandescentes comuns, gás neon, luzes de mercúrio, fluorescentes, acrílicas etc, ao mesmo tempo que no empego estético da cor surgem novas especialidades na comunicação visual.
Cada cor traz consigo uma longa história.

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Vermelho
O vermelho é uma das sete cores do espectro solar, sendo por isso denominado cor fundamental ou primitiva. É a cor primaria (indecomponível), tanto em cor-luz como em cor-pigmento. Possui elevado grau de cromaticidade e é a mais saturada das cores, decorrendo daí sua maior visibilidade em comparação com as demais. Seu escurecimento em mistura com o preto (escala de valor) tem como pontos intermediários, entre o vermelho e o preto, vários tons de marrom. Seu escurecimento como sem perda de luminosidade (escala de tom) obtém-se com a mistura a púrpura, violeta ou azul, dependendo do grau de escurecimento desejado. É a única cor que não pode ser clareada sem perder de suas características essenciais. Clareado com a mistura do amarelo, produz o laranja. dessaturado pela mistura como branco, produz o rosa, cor eminentemente alegre e juvenil.

O vermelho é a mais contraditória das cores, devido à sua origem e seu processo de saturação. Nos círculos cromáticos de matizes contínuos e nas experiências prismáticas, o vermelho surge entre as radiações violáceas e as alaranjadas que se interpenetram, sendo impossível determinar onde começa e termina o vermelho-alaranjado. O mesmo ocorre com o vermelho-violetado. Esse ponto ideal, comumente chamado vermelho puro, é uma abstração, por ser da própria natureza do vermelho a participação do azul e do amarelo em sua constituição. No seu ponto mais característico, correspondente a 700 mµ de comprimento de onda; para cada 011.359 unidades de vermelho existem 004.102 'unidades de verde, segundo a tabela de padronização dos estímulos tricromáticos elaborada pela Comissão Internacional de Iluminação. Como se sabe, o vermelho é um ponto intermediário entre o amarelo e o azul, provando a impossibilidade da existência de um vermelho sem que dele participem o azul e o amarelo.

-µ No Sistema Internacional de Unidades, µ é o símbolo do prefixo micro.-

Cor do fogo e do sangue, o vermelho é a mais importante das cores para muitos povos, por ser a mais intimamente ligada ao princípio da vida: As contraditórias características físicas do vermelho deram origem à bivalência de imagens inspiradas por elas, surgindo entre os alquimistas a ideia simbólica de dois vermelhos, um noturno, fêmea, possuindo um poder de atração centrípeta, e o outro diurno, macho, centrífugo.

O vermelho foi a cor de Dionísio para os pagãos e é a cor do Amor Divino para os cristãos. Na maiorias das lendas europeias e asiáticas, o espírito do fogo é sempre representado com roupas vermelhas. É a cor de Marte, dos guerreiros e conquistadores. Era a cor distintiva dos generais romano e da nobreza patrícia, tornando-se a cor dos imperadores. O vermelho chamejante é o símbolo do amor ardente.

Amarelo
Na mitologia grega, o amarelo do pomo de ouro, símbolo da discórdia, podia guardar certa analogia feminnia, mas ao mesmo tempo, contraditoriamente, o amarelo simbolizava o másculo carro de Apolo, o deus da luz. Apesar da variedade de significados atribuídos ao amarelo nos diversos períodos históricos, o que se evidencia, em todos os tempos é sua infinita ligação com o ouro, o fruto maduro e o sol.

Na Índia, a faca empregada nos grandes sacrifícios do cavalo deve ser de ouro, porque o ouro é luz e é por meio da luz dourada que o sacrificado ganha no reino dos deuses, como rezem os textos bramânicos. Para o s budistas, o amarelo corresponde ao tempo ao centro-raiz (Mulâdharachakra) e ao elemento terra (Ratnasambhava), onde a luz é de natureza solar.

Para os chineses, o amarelo ou o preto significam a direção do Norte ou dos abismos subterrâneos onde se encontram as fontes amarelas que levam ao reino dos mortos. O Norte e as fontes amarelas são de essência Yin e também a origem da restauração do Yang. O amarelo associa-se ao preto, como seu oposto e seu complementar. Ambos surgem como diferenciações primordiais –análogas às oposições de forças contrarias como as existentes em Yang i Yin, no redondo e no quadrado, no ativo e no passivo etc. Na antiga simbologia chinesa, o amarelo emerge do negro, como a terra emerge das águas. O amarelo era a cor do imperador, por se encontrar no centro do universo, como o sol no centro do firmamento.

Entre os cristãos, o amarelo é a cor da eternidade e da fé. Une-se à pureza do branco, na bandeira do Vaticano. Em vários países simboliza o despeito e a traição. É também o símbolo do desespero, por ser intenso, violento e agudo até a estridência.

Em heráldica, é substituído pelo esmalte ouro e pela cor dourada. Graficamente, é representado  por linhas horizontais interrompidas, formando uma retícula clara. Significa sabedoria, amor, fé, virtudes cristãs e constância.

Verde
Lembrando a esperança, a toga dos médicos era verde. Pela mesma razão, ainda hoje seus anéis de grau são verdes. Verde é também a cor preferida para a ornamentação das farmácias e indústria farmacêutica.
No Islã, o verde era a cor do conhecimento como a do profeta. Os santos, em sua permanência paradisíaca, eram descritos vestidos de verde. Benéfico, o verde assume um valor místico, que é o dos grandes prados verdejantes, dos verdes paraísos dos amores infantis.

Os alquimistas definiam o fogo secreto, espírito vivo e luminoso como um cristal translúcido, verde fusível como cera. A natureza servia-se dele, subterraneamente, para todos os misteres da arte. Esse gogo resumia os contrários: era árido, mas fazia chover; era úmido e ao mesmo tempo produzia a seca. Nos preceitos esotéricos, o principio vital, segredo dos segredos, aparece como um sangue profundo contido num recipiente verde. Para os alquimistas ocidentais, é o sangue do Leão Verde, que é o ouro, não do vulgar, mas dos filósofos. O verde simboliza a luz da esmeralda que penetra todos os segredos. O ambivalente significado do raio verde, capas de traspassar todas as coisa, evidencia-se como portador da morte, ao mesmo tempo em que traz a vida consigo.

O sinople, esmalte verde do brasão, significa bosque, campos de verdura, esperança, civilidade, amor, honra, cortesia, amizade, domínio, obediência, compreensão, lealdade ao príncipe. Sua representação heráldica em preto e branco, nas gravuras e pedras de armas, é feita por traços diagonais. 
Pela infinita gama de seus componentes (azul e amarelo) e pela ampla escala de saturação e claridade que possui, o verde reúne as melhores condições para a decoração de interiores. Seu poder tranquilizante e até sedativo, quando claro, facilmente se conjuga com a estimulante e até inquietante estridência dos tons fortemente saturados, possibilitando seu emprego tanto nos ambientes de repouso (sala de estar, quartos de dormir, sanatórios etc), como nos de estudo ambientes de estudo (gabinetes de pesquisa, salas de aula etc) e de trabalho (escritório, lojas, fábricas etc).

Internacionalmente, identificou-se com o grito de exclamação: “Viva!” descarga emocional do homem motorizado diante do sinal verde representativo de passagem permitida, trânsito livre.

Entre as pedras preciosas, a esmeralda é a que tem o maior número de significados simbólicos, por encampar toda a linha de significações do verde. Na Antiguidade, recomendava-se a esmeralda para os doentes da vista, especialmente para os que tinham a vista cansada. No horóscopo, é a pedra do signo de maio.

O verde e o amarelo são as cores nacionais. Segundo antigas tradições de brasões e bandeiras, o verde estaria ligado à reminiscência do verde da Casa de Bragança da qual descendia Dom Pedro, e o amarelo à do amarelo da casa de Habsburgo-Lorena, à qual pertencia a Imperatriz Leopoldina.

Azul
A gravidade solene do azul tem algo de supraterrestre, evocando a ideia da morte. Nas necrópoles egípcias, as cenas de julgamento das almas eram pintadas em ocre avermelhado, sobre fundo azul claro. Os egípcios consideravam o azul como a cor da verdade. As ideias do absoluto, da morte e dos deuses eram comumente simbolizadas pelo azul.

Com o vermelho ou o ocre amarelo, o azul manifesta as rivalidades do céu e da terra. Segundo uma tradição ainda em voga, Genghis-Khan, fundado da grande dinastia mongol, nasceu da união do lobo azul com a fera selvagem. O lobo azul é ainda Er Töshtük, herói lendário khirguize que leva uma armadura de ferro, brincos e lança azuis. No Budismo tibetano, o azul é a cor de Vairocana, da sabedoria transcendental, da potencialidade e da vacuidade, em que a imensidão do céu azul constitui uma imagem representativa. A luz azul da sabedoria de Dharma-dhatu (lei ou consciência original), de potente deslumbramento, é que abre o caminho da Liberação.
O azul foi também a cor dos campos elísios, a superfície infinita onde surge a luz dourada que exprime a vontade dos deuses. A ação violenta do outro sobre o azul – valores identificados como macho e fêmea – assume sempre o sentido simbólico de oposição e tensão de forças contrárias. Zeus e Jeová, em todas as representações cromáticas, reinam sempre com os pés pousados sobre o azul significativo da abóbada celeste. Essa mesma abóbada celeste é, por usa vez, simbolizada pelo manto azul que cobre e vela as divindades. O azul, com três flores-de-lis de ouro do brasão da Casa de França, proclamava a origem divina dos reis cristãos.

Pela ideia de superioridade sugerida em comparação com as outras cores, o azul foi escolhido como a cor da nobreza, originando a expressão designativa de sangue azul. No sentido de reinado, na festa da ascensão da Virgem-Mãe, o ouro solar aparece sobre fundo azul, numa representação de céu sem nuvens. Ligado à ideia de pureza, subsiste ainda, em várias regiões da Polônia, o costume de pintar de azul as casa das jovens em idade de casar. O anel de grau do engenheiro é azul, simbolizando inteligência, raciocínio e possibilidade de construção de novos mundos.

É o segundo dos esmaltes heráldicos, convencionalmente representado por linhas horizontais em reproduções a preto e branco. Simboliza justiça, lealdade beleza, boa reputação, nobreza e fidelidade. As pedras precisas azuis mais belas são a água-marinha e a turquesa. A primeira, desde tempos remotos, era usada pelos navegantes, na crença de seu poder propiciatório de viagens seguras e tranquilas. Sua cor varia do azul claro ao azul escuro, havendo também algumas espécies de coloração azul-esverdeada. No signo zodiacal é a pedra do mês de março.

A terra é azul! foi a exclamação eufórica do primeiro home ao ver o nosso planeta de uma distância cósmica.


Violeta
É o nome genérico que se dá a todas as core resultantes da mistura do vermelho com o azul, desde os azuis-marinhos que se avermelham até os carmins que se esfriam.

O violeta é a cor extrema do espectro visível, confinando com os raios ultravioleta. Possui a mais alta frequência e o menor comprimento de onda dentre todas as cores, cerca de 400mµ. Sua composição tricromática é de 014.310 unidades de vermelho para 000.396 de verde e 067.850 de azul.
É o violeta a cor da temperança. Reúne as qualidade das cores que lhe dão origem (vermelho e azul), assim simbolizando a lucidez, a ação refletida, o equilíbrio entre a terra e o céu, os sentidos e o espírito, a paixão e a inteligência, o amor e a sabedoria.

Desde os tempos mais remotos o violeta impressionou os homens. Não sendo fácil produzir essa coloração por nenhum meio que lhes estavam ao alcance, a ametista passou a simbolizar a própria cor. Os faraós do antigo império já se enfeitavam com ela, e a Bíblia relata que os ditava-se que a ametista pudesse neutralizar os efeitos da bebida – por isso o vinho era tomado em taças talhadas nesse mineral e usavam-se os mais variados adornos dessa pedra para evitar a embriaguez. A raiz grega da qual se originou a palavra ametista significa sóbrio.

Laranja
Quando produzido por luzes coloridas, o laranja é cor terciária, com a proporção óptica de 2/3 de vermelho e 1/3 de verde. Em pigmento, é cor binária, complementar do azul. Resultado da mistura do vermelho com o amarelo, em equilíbrio óptico. Cor quente por excelência, sintetiza as propriedades das cores que lhe dão origem. Em comparação com cores mais frias, parece avan¬çar em direção ao observador. Tem grande poder de dispersão. As áreas coloridas pelo laranja parecem sempre maiores do que são na realidade. Devido à sua característica luminosa, funciona as vezes como luz, ou meia-luz, nas escalas de tom. Por sua estrutura, não pode ser escurecido. Rebaixado com o preto, torna-se sujo, marchando no sentido das colorações terrosas. Misturado ao vermelho, consegue-se um escurecimento tonal relativo, mas surge uma cor mais enérgica e agressiva que o laranja equilibrado (vermelho alaranjado). Clareado com amarelo ilumina-se aumenta em vibração, mas perde em consistência. Dessaturado com o branco, ganha em luminosidade, criando variada gama de tonalidades agradáveis à vista. Tem comprimento de onda de 6z0 mu, aproximadamente, e sua composição tricromática é de 854.449 de vermelho para 381.000 de verde e 000.190 de azul.
Em substância corante, os laranjas mais conhecidos são o cádmio e o do cromo. A vasta gama de vermelhos e amarelos fornece, por mistura, grande guarda as propriedades das cores originais.

O flammeum, antigo véu de noivas, significava a perpetuidade do casamento. A pedra  jacinto, de coloração alaranjada, era considerada como símbolo de felicidade. Do ponto de vista místico, encontra-se o laranja como fruto do ouro celeste e do gueule xintoniano num equilíbrio prestes a romper-se, ou na direção da revelação do amor divino ou na da luxúria. O difícil equilíbrio do laranja, entre o vermelho e o amarelo, vinculava-se ao não menos difícil equilíbrio entre o espírito e a libido, passando o laranja a simbolizar também a infidelidade e a luxúria. Numa expansão lasciva, Dionísio vestia-se de laranja para as festas em sua honra.

Em. heráldica, a cor laranja corresponde ao esmalte aurora. É representado em branco e preto, ou nas pedras de armas, por diagonais que se entrecruzam, formando uma retícula de pequenos losangos. Abandonando o significado que possa ter a aurora como nascimento de um novo dia, ele representa mutação, inconstância, instabilidade, dissimulação e hipocrisia.


Púrpura
Na mistura em proporção óptica de 2/3 de vermelho por 1/3 de azul, obtém-se a mais imponente cor violácea, a púrpura. Seu ponto de equilíbrio é tão definido que facilmente é encontrado na mistura de corantes e reconhecido nas refrações luminosas e luzes coloridas em geral. É cor terciária e sua dignidade gerou em todos os tempos a maior admiração e respeito.

Usando como matéria-prima, a substância colorida secretada pelas glândulas anais dos moluscos murex brandaris (da família dos muricídios), os fenícios produziram essa cor altamente valorizada na Antiguidade e da qual a História guardou a lembrança com a designação de púrpura-de-tiro. Modernamente, são mais empregadas a púrpura-de-cássio (precipitado resultante da redução de um sal de ouro pelos cloretos de estanho), de largo consumo na cerâmica, e a púrpura francesa, corante natural que age por ação de mordente metálico, preparado pelo químico francês Mamas, a partir dos líquens dos gêneros Lecanora e Rocella.

Na Roma antiga, ligava-se à ideia da primeira magistratura, devido à vestimenta púrpura ou com ornatos purpurinos usada pelos magistrados. Substitui o violeta nos esmaltes heráldicos, sendo representada em preto e branco, nas pedras de armas, por linhas diagonais que partem da extremidade inferior esquerda para a parte superior direita. Simboliza devoção, fé, temperança, castidade, dignidade, abundância, riqueza, autoridade e poder.

Na indústria gráfica e nas mesclas de luzes coloridas, o vermelho usado para tricromia é um vermelho carminado (magenta), daí a discutível ideia de que a púrpura seja cor primária.

Marrom, Ocre e terras
Os ocres e os marrons não existem como luzes coloridas, por serem amarelos sombrios ou quase trevas. Em pintura ou em artes gráficas, essas tonalidades se obtêm por mistura de amarelo e preto para a produção dos ocres e terras-de-sombra, ou amarelo, vermelho e preto, para os marrons avermelhados e terras-de-siena.

Os ocres são argilas coloridas por proporções variáveis de óxidos de ferro. Em estado natural, são amarelas ou marrons, mas se tornam vermelhas pelo efeito da calcinação. Por sua origem, essas tonalidades se chamam genericamente terras. A terra ocre é o ocre-amarelo, a mais clara das terras. A terra-de-sombra natural é o ponto intermediário entre o ocre-amarelo e a terra- de-sombra queimada. Esta última, de coloração marrom-escuro, muitas vezes se emprega em pintura para a criação de um preto quente aparente. A terra-de-siena natural equivale, numa escala de valores, à terra-de-sombra natural, diferenciando-se desta apenas por sua coloração avermelhada. A terra-de-siena queimada é um marrom escuro avermelhado, aproximando-se bastante do marrom-van-dyck.

O marrom é um pigmento muito sólido, colorido pelo óxido férrico ou pelo bióxido de manganês. O marrom-van-dyck é um ocre proveniente das cinzas de pirita, calcinadas em alta temperatura.
Durante todo o período conhecido como Pós-Renascimento, as terras foram sabiamente empregadas na coloração geral dos-quadros. As mais belas carnações dos pintores venezianos partiam de marrons sombrios para os castanhos dourados em plena luz. Mas tal maneira de fazer foi abastardada a tal ponto, que o academicismo em pintura encontrou nas colorações terrosas e sombrias uma de suas fortes características.

A diluição da cor numa atmosfera marrom simplifica e escamoteia a incapacidade do emprego da justeza do tom. Portanto, é prática acadêmica rebaixaras cores ou com terras e marrons, ou com pretos e cinzas-neutros, para fugir à dificuldade da vibração das cores puras.

Em heráldica, os tons de terra são representados pelo marrom, que corresponde ao esmalte tanné. Sua representação nas gravuras em branco e preto faz-se pelo preto chapado. Significa penitência, sofrimento, aflição e humildade.

Branco
Resultado da mistura de todos os matizes do espectro solar, o branco é a síntese aditiva das luzes coloridas. Uma cor-luz e sua complementar produzem sempre o branco. Em pigmento, o que se chama branco é a superfície capaz de refletir o maior número possível dos raios luminosos contidos na luz branca.
Já na Antiguidade o branco não era citado entre as cores principais, pelo que se depreende das observações de Plínio. Durante o Renascimento, Leon Battista Alberti afirmava que "o branco não muda o gênero das cores, mas forma espécies", demonstrando assim compreender a distância existente entre o branco e os gêneros (matizes). A definição de Leonardo da Vinci sobre o branco, negando-lhe a qualidade de cor, permanece inalterada, em sua essência, até os nossos dias. Mesmo não reconhecendo a qualidade de cor para o branco e para o preto, Leonardo salientava que "o pintor não poderia privar-se deles".
Em vários rituais místicos, é a cor indicativa das mutações e transições do ser. Segundo o esquema tradicional de toda iniciação, ele representa morte e nascimento ou ressurreição. O branco do Oeste é o branco fosco da morte que absorve o ser e o introduz no mundo lunar, frio e fêmea. Ele conduz à ausência, ao vácuo noturno, ao desaparecimento da consciência e das cores diurnas. O branco do Leste é o do retorno. É o branco da vida, da alba, onde a cúpula celeste reaparece. Rico de potencialidades, é nele que o microcosmo e o macrocosmo se reabastecem.

Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, todo nascimento é um renascimento. Daí a ideia primitiva do branco como cqr-da morte e do luto. Neste sentido é ainda empregado em todo o Oriente, e durante muito tempo significou o luto na Europa, tendo tido sua maior permanência na corte dos reis da França."... O luto negro só tomou maior popularidade em Portugal no século XVI. Antes o burel (branco) competia vitoriosamente com o dó (negro) como cores dedicadas ao luto" (CASCUDO, 1962, p. 210).
O branco é a cor da pureza, campo que não originou ainda uma cor definida, que é como uma promessa, a expectativa de um fato a se desenvolver. Nessas premissas, a iniciação cristã da primeira comunhão e a brancura virginal expressas pelas vestes brancas e pelo branco véu de noiva encontram sua origem e significado.

Na visão espiritual de Kandinsky (1954, p. 70), o branco, considerado muitas vezes como uma não-cor, principalmente pelos impressionistas, porque não veem o branco na natureza, é como o símbolo de um mundo onde todas as cores, como propriedades materiais, desapareceram. "O branco age sobre nossa alma como o silêncio absoluto. (...) É um nada pleno de alegria juvenil ou, para dizer melhor, um nada antes de todo nascimento, antes de todo começo."
Como reflexo de uma aspiração dominante, o branco encontra seu maior significado no século XX, representando a paz, principalmente a paz entre os povos. É neste sentido que ele aparece na bandeira da Organização das Nações Unidas (ONU), desenhando sobre fundo azul o globo terrestre e os ramos de louro que o cercam.

Em heráldica, o preto mantinha analogia com o sable (areia, representada pelo ocre-amarelo), exprimindo sua identidade com a terra estéril. Significava prudência, sabedoria, constância na tristeza e na adversidade.
Nos esmaltes heráldicos, o branco é prata. Nas gravuras em preto e branco, representa-se por um simples traço preto que delimita a área branca, assumindo a significação simbólica de pureza, inocência, verdade, esperança e felicidade.

Preto
Teoricamente, o preto representa a soma das cores-pigmento na mistura que produz a síntese subtrativa, mas o que se denomina preto nessa síntese é, a rigor, um cinza escuro, também chamado cinza-neutro, por não ser influenciado preponderantemente por nenhuma cor.

O preto encontra sua maior força e presença em oposição ao branco. Sendo um ponto extremo como o branco, tanto poderá marcar o início como o fim da gama cromática, no que tange ao rebaixamento ou iluminação dos matizes na escala de valores. Quando se toma a luz como ponto de partida, o preto será o ponto extremo final da escala; a partir da privação da luz, será o ponto inicial.
Misturado ao branco, produz o cinza, cor neutra por excelência, o que levaria Kandinsky (1954, p. 70, 71) a afirmar:
Não é sem razão que o branco é o ornamento da alegria e da pureza sem mancha, e o preto o do luto, da aflição profunda, símbolo da morte. O equilíbrio destas duas cores, obtido por uma mistura mecânica, dá o cinza. É natural que uma cor assim produzida não tenha nem som exterior nem movimento.
Psicologicamente, encarna a profundeza da angústia infinita, em quê o luto aparece como símbolo de perda irreparável. Nesse sentido, em certa interpretação do Zoroastrismo, Adão e Eva se cobrem de preto ao serem expulsos do Paraíso, numa representação do mal sem remédio. Evocando o caos, o nada, o céu noturno, as trevas terrestres, o mal, a angústia, a tristeza, o inconsciente e a morte, o preto é o símbolo maior da frustração e da impossibilidade.

Biblicamente, significou a estigmatização de Caim e seus descendentes, e ainda hoje está ligado à condenação e à danação da alma, mas, sublimando-se, representa renúncia à vaidade deste mundo, originando os mantos negros, proclamação da fé no Cristianismo.

No Egito, uma pomba negra era o hieróglifo da mulher que sofre a viuvez até o fim de seus dias. Na antiga Grécia, a vela negra içada ao mastro dos navios, revelando tragédia, simbolizava a fatalidade.


A cor nos cultos afro-brasileiros
(Da cor a cor inexistentepag. 114)

Coo todos os cultos religiosos conhecidos, os de origem africana também possuem uma simbologia da cor reveladora do nível mental e do desenvolvimento social do meio onde surge.
“Os santos africanos (orixás jeje-nagos) tem suas cores, e sua filhas usam essas cores como os fidalgos usavam as cores das casas onde serviam como vassalos. Oxalá é branco, Xangò é vermelho, Omulu é preta, Anamburucu é azul-escuro. (CASCUDO, 1962, P. 241)”
Nos candomblés, macumbas, xangôs, batuques, parás, babaçuês, tambores, as cores, aparecem designando as divindades através da decoração dos terreiros, dos objetos sagrados, das vestimentas, dos paramentos e adorno dos Babalorixás, Mães-de-Santo, Filhas-de-Santo, Ogãs e Babalaôs. A variada denominação dos cultos demostra as influências aparecidas no Brasil, alterando cada um deles. Tais influências, dispares, marcam suas presença também no significado das cores rituais. Por isso, às vezes vamos encontrar, na prática mística, a mesma cor designado vários orixás, e o mesmo orixá representado por várias cores, conforme dizem Roger Bastide (1973) e Edison Carneiro (1936):

Olorm (nagô) ou Zaniapombo (Angola, Congo, caboclo) – Deus supremo, pais de todos os orixás, avô dos mortais. Sua indumentária é inteiramente branca, usando prata ou níquel.

Obatalá, Orisalá ou Oxalá – É representada por duas cuias pintadas de branco, em alusão ao céu e a terra. Outra representação era a lima ou o limão verde; do ioruba ohsa, a lima, ou limeira; e nlá, grande notável, Pela origem de seu nome e pelos símbolos usados, destacam-se as cores branca e verde.

lemanjá - Mãe d'água dos iorubanos, a mais prestigiosa entidade feminina dos candomblés da Bahia. É mãe de todos os orixás e de tudo o que existe na face da terra. Protetora das viagens marítimas, sofreu o processo sincrético das deusas marinhas, passando a ser Afrodite, Anadiômene, padroeira dos amores, dispondo sobre uniões, casamentos e soluções amorosas. Também conhecida como Janaína, Princesa do Mar, Sereia, Sereia do Mar, Oloxum. Suas cores rituais são o vermelho, azul-escuro e cor-de-rosa, más a cor preferida para as oferendas é o branco, principalmente sob a forma de flores.

Oxum - Orixá dos rios e das fontes, égide das águas doces, como lemanjá é das salgadas e Anamburucu da chuva. Sua insígnia é um leque de latão, o abedê, tendo no meio uma estrela branca ou uma sereia. Suas filhas usam colares e pulseiras largas de latão amarelo-ouro e cores douradas na vestimenta.

Anamburucu (Nanã) - O mais velho dos três orixás das águas (Anamburucu, lemanjá e Oxum). Suas cores rituais são o branco e o azul-escuro. As filhas-de-santo usam pulseiras de alumínio e contas brancas, vermelhas e azuis.

Xangô - Rei nagô. É divindade das tempestades, raios, trovoadas, descargas da eletricidade atmosférica. Usa contas vermelhas, brancas e pulseiras de latão. Sincretiza-se com São Jerônimo e Santa Bárbara.
lansã - Uma das mulheres de Xangô, identifica-se com Santa Bárbara. Suas cores são o vermelho e o branco.

Oxum-Maré - É o orixá do arco-íris, imagem identificada com a serpente-marinha. Santo iorubano, sempre ocupado em transportar água da terra para o ardente palácio das nuvens, onde reside Xangô. As filhas de Oxum-Maré usam fita (verde e colares de pedras alaranjadas. Os apetrechos rituais são uma cobra em forma de hidé, dilonga otói, contas raspadas com chumbo verde e três pratos pequenos de louça verde.

Ifá - Orixá das coisas ocultas, das predições e adivinhações. Identifica-se com ocre pálido da palha da esteira de Ifá, dos frutos de dendê e das nozes de manga do colar de Ifá.

Ogum - É o orixá guerreiro. Nas macumbas do Rio de Janeiro, identifica-se com São Jorge. A cor predileta do Ogum é o azul-profundo. Os colares das filhas de Ogum são de contas azul- marinho na Bahia, amarelas no Recife, ou mesmo vermelhas e brancas. Os crentes afirmam ver na pedra de Ogum um homem vestido de vermelho com uma espada na mão.

Oxóssi - Orixá da caça e dos caçadores. Suas filhas vestem verde e amarelo, pintura verde, pulseiras de bronze e colares de continhas; verde-branco nos candomblés bantos e azul-claro nos nagôs.

Omulu, Omonolu, ou Obaluacê - Santo da varíola nas macumbas do Rio de Janeiro, o mesmo Alalaú, Aiê, Obaluaiê, "O homem da bexiga". Para o culto de Omolu, as vestimentas são vermelhas e pretas e palha da Costa. As pinturas nas penhas e nas iauôs, roxas. Os colares de Omolu são de macau de palha da Costa; contas pretas e brancas nos terreiros nagôs, pretas e vermelhas nos terreiros bantos.

Logunedê - Sincretizado com São Expedito, suas contas são verde-amareladas.

Exu - Representante das potências contrárias ao homem, sendo por isso, às vezes, identificado com as forças malignas. E uma divindade brincalhona e fálica. As contas usadas por suas filhas têm as mesmas cores das vestimentas: vermelho e preto.

Ibeiji - Divindade gêmea, orixá jeje-nagô, representada nos candomblés pelos santos católicos São Cosme e São Damião. Suas cores são o vermelho e o branco.

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